sábado, 23 de abril de 2011
Sexta feira, 22 de abril de 2011
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Zulmira
Prólogo
Abril de 1980
A parteira a examinou cuidadosamente e foi ao encontro da mãe, sorrindo.
- É uma menina – diz ela em voz baixa – Qual vai ser o nome?
A mãe sorriu emocionada, enquanto admirava aquela pequena criaturinha rosada que chorava e se debatia. Ela se parecia com o pai, tinha cabelos negros e olhos sempre em alerta. Um ser tão indefeso e inocente, que mal chegara ao mundo e pranteava em busca do seu alimento e seu lugarzinho no mundo. Por que será que ela chorava tanto? O primeiro contato com o mundo e já se tornara uma injustiçada, não queria ficar nesse cenário deplorável. Na verdade, ninguém queria. Mal chegara ao mundo e já reclamava a sua parte, a pequena devia saber, de uma forma ou de outra, o que a vida, tão maldosamente, lhe reservara.
A mãe já não mais se sabia se sorria ou se chorava. Na perspectiva de seu marido, aquilo que ela chamara carinhosamente uma benção, era, na verdade, mais uma boca para alimentar. E não deixava de o ser, essa era a quarta filha do casal e a situação era precária, viviam praticamente na miséria. A mãe, uma humilde vendedora-costureira-auxiliar de obra, era uma mulata robusta e de uma personalidade muito forte, uma mulher trabalhadora que vivia apenas para os filhos. Não era das mais carinhosas, entretanto, amava a todos à sua maneira. Ela era um tipo peculiar, nunca demonstrava fraqueza e encarava muito bem a mísera situação em que se encontravam. Até hoje não se sabe por que ela se submetia àquele modo de vida. Decerto, era uma mulher misteriosa.
O pai era um tipo daquele que se vê muito por aí. Era forte, alto e adorador de pinga. Segundo as más-línguas nas horas vagas ele era motorista, por que sua profissão na realidade era beber. Quando sóbrio era um homem severo e um pai rígido. Era um péssimo marido, e muitas vezes, podia ser comparado a um troglodita, brigava com a mulher e batia nos filhos. Se você se desse o trabalho de investigar, com certeza ninguém teria coisas boas para dizer sobre ele. Era um perfeito exemplo de homem indesejável.
Voltando á realidade, a mãe enlaçou a pequena delicadamente em seus braços e, pela primeira vez, encostou-a em seu seio e pôs-se a alimentá-la. O que seria dessa criança? Será que em meio aquela desgraceira toda, ela haveria de ter uma chance na vida?
Admirou sua filha por alguns segundos... Tão pequena, tão indefesa, apenas um grãozinho de areia nesse mundo de meu deus. Tirou dos seus olhos, cautelosamente, um fio de cabelo que a incomodava, acariciou seu rosto sempre a pensar no futuro que tanto a atormentava.
Olhou para o céu, tão azul, tão belo... E se encheu de um sentimento até então desconhecido e também eufórico. Talvez desse tudo certo, talvez seus filhos tivessem um futuro promissor, talvez...
A mão não sabia muito bem como chamar aquilo, devia ser a bendita Esperança. Era mãe pela quarta vez e nunca havia sentido aquilo. De alguma forma ela sabia que aquela garotinha precisava de um cuidado especial.
A parteira, que havia estado ali todo esse tempo, perguntou novamente:
- Então, como vai chamá-la?
Ela olhou inexpressivamente para a mulher, como se não tivesse notado sua presença até então. Pensou por alguns minutos e sorriu, olhando ternamente para a filha.
- Zulmira – disse quase num sussurro – Ela vai se chamar Zulmira.
Por J.M.
domingo, 17 de abril de 2011
Platônico
Vem sem saber de onde ou por que
Uma imensidão de tenros calafrios
Um querendo querido sem querer
A vida passada num sonho pueril
O apelo do sorriso na vontade
Numa triste incógnita melodiosa
Uma comparação que chega a crueldade
De tão perfeita, torna-se odiosa
Aquele que não sabe, anda perdido
Na triste e bela ânsia do meu ser
Como pode passar tão despercebido?
Nesse imenso e melancólico padecer
O que anseio não chega aos meus ouvidos
Talvez não seja um jogo de ganhar ou perder...
Por J.M.