sábado, 9 de julho de 2011

O começo do fim

Era quase meia noite, o relógio tiquetaqueava, a brisa fria entrava furtivamente pelas brechas. E a menina ainda acordada, inquieta, com aquele pressentimentozinho ruim no coração. Levantou-se um milhão de vezes, andou pelo quarto, foi à cozinha, bebeu um copo d’ água e voltou. Nem ela mesma sabia o que a atormentava. Uma garotinha aflita no meio da noite. Bonita? Não, linda. Aquela menina era a imagem da perfeição. Tão loura tão delicada e meiga, tinha olhos azuis de boneca, uma vozinha suave, um jeito de estampa colorida. Margaret não era bem real: era uma pintura. O que poderia afligir tal criatura tão doce?

Correu seus olhinhos astutos em busca de um consolo. Coitadinha da Margaret. Seu pai já deveria ter chegado há muito tempo. Passou-se da hora do beijo de boa-noite, da sua canção de ninar, feita só para ela.

Oh pequenina, adormeça

Parecia que ele estava ali, sussurrando aqueles versos melódicos para a pequenina adormecer. Por que será que ele não chegava logo? Eles disseram que ele tinha ido para o céu. Afinal de contas, onde era esse céu? Será que era longe? E por que ele não a tinha levado junto?

Um turbilhão de perguntas passou-se pela cabecinha da pequena. O papai deveria estar bravo com ela, por isso não voltava. Tudo culpa dela, que quebrara o vaso favorito dele e então ele foi para o céu e esqueceu-se dela.

Então ela teve uma ideia. Desceu as escadas correndo, afoita. Gritava com todas as suas forças, dava para ouvir sua vozinha estridente de muito, muito longe. Papai!Papai! Me espere, serei boazinha. Ela chegou até a porta, esperando ele aparecer do nada e enlaçar-lhe em seus braços aconchegantes.

Mas ele não chegou.

E a garotinha chorosa ficou lá, esperando um pai que não voltaria.

Por Juliana Monteiro