Eu o observava, enquanto ele deslizava sua mão delicadamente sobre o papel. Eu desconhecia sua arte, mas tive a leve impressão de que estava sendo retratada naquele humilde e insignificante papel. Desde que chegara, ele não se dignara a me dirigir um único olhar. Sua expressão era dura e cansativa, ele estava intensa e completamente concentrado em seu trabalho. Ele não se mostrava convidativo e isso me intrigava. Mas de uma coisa eu sabia, o chamavam Vincent.
Fui me aproximando lentamente daquele garoto surreal e assustador.
-Oi. - disse.
-Olá. - respondeu ele secamente, sem tirar os olhos do papel.
Passou-se alguns minutos, nos quais nenhum dos dois se manifestou. Vendo que ele não falaria, quebrei o silêncio:
-O céu está muito belo, não?
-Não. - cortou ele.
Eu o encarei perplexa.
-Não?
-Não. Pois não há nuvens, é como uma tela vazia. Agora se a senhorita me der licença, eu irei me recolher.
-C-claro- sussurrei.
O que havia de errado comigo? Por que eu não conseguia parar naquele garoto prepotente?
Eu me sentia frágil, insegura, minhas mãos suavam... O que eu estava pensando?
Que poderia me apaixonar por qualquer reles mortal que aparecesse na minha frente?
Eu definitivamente não poderia amá-lo. Mas infelizmente eu não tinha esse poder, só conseguia pensar em sua pele bronzeada e seus belos cabelos negros esvoaçantes.
Quando percebi uma folha caída no chão, a peguei trêmula sem saber o que fazer. Àquela pequena folha retratava a mim de todas as maneiras possíveis. Cabelos curtos, longos, encaracolados, olhos verdes, negros, azuis, mel... sem perder, em nenhum momento, a minha essência.
Fiquei pensativa por alguns minutos e uma única lágrima escorreu por minha face. Então percebi uma notinha de rodapé, com os seguintes dizeres:
Eu a amo, mas é impossível.E naquele dia, tive certeza que nunca mais o veria.
Por J.M.